Já imaginaste como seria uma viagem numa frágil
caravela perdida na imensidade dos oceanos na procura de novas terras?
As instalações
eram reduzidas para o número elevado de tripulantes e passageiros sendo as
viagens mais penosas por falta de um mínimo de conforto.
Tornavam-se longos os meses e os dias no alto mar
quando os marinheiros apenas viam água e o navio avançava lentamente para o
desconhecido…
Para além das tarefas que ocupavam o dia a dia do
marinheiro, quando os perigos de uma tempestade pareciam adormecidos
cumpriam-se os deveres religiosos, assistindo à missa e participando na procissão
organizada conforme o calendário religiosos. Quando a tormenta ameaçava, os
ventos rugiam, o navio baloiçava ao sabor impetuoso das vagas, era preciso
pedir o auxilio divino já que a morte parecia espreitar a todo o momento.
Porém, quando o cenário se modificava e à tempestade
se seguia a acalmia as tripulações ocupavam parte do seu tempo nos ensaios e
representações teatrais. Outra das grandes distracções a bordo eram jogos de
sorte ou azar. Proibidos pelos regulamentos de bordo, numa tentativa de evitar
discussões e distúrbios, eram todavia uma prática corrente. (..)
A alimentação das tripulações era complicada. A
quantidade dos alimentos que o navio levava era calculada de acordo com a
duração da viagem o número de pessoas a bordo. Os tripulantes tinham uma
distribuição diária assegurada de biscoito, água e vinho. A carne, o peixe, os
frutos secos ou frescos e o queijo também faziam parte da alimentação.
As refeições quentes não eram frequentes, faltava a
bordo um cozinheiro e uma caldeira comum.
Quando as viagens
e prolongavam e não era possível o abastecimento, os alimentos faltavam
e muitas vezes eram comidos deteriorados. (…) Com uma alimentação tão precária
a que faltavam as verduras e os frutos frescos, não admira que as tripulações
fossem atingidas pela doença. O escorbuto, doença provocada pela falta de
vitaminas provocou um número muito elevado de vítimas entre os marinheiros.
Rui Abreu, “Saúde e doença nas naus” in A viagem que mudou o Mundo